sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Rock nas pistas – Pt 2 – Howler, Strokes, Stratopumas e o Prince


Dessa vez é no palco, na verdade. Estamos aqui pra falar do show da banda HOWLER que acontece amanhã aqui (sábado 25.02), no Beco Porto Alegre. Em São Paulo iria rolar antes, mas a banda ficou impossibilitada de embarcar devido a uma nevasca onde estavam (cada veículo diz um lugar, não me arrisco) então o show foi transferido pra domingo.

Os guris de Minneapolis são considerados a “nova salvação do indie rock”, comparados o tempo todo com Strokes e são os novos queridinhos da mídia especializada. Tanto que saem do Brasil direto para o NME Awards.




A comparação é bem justa, ou é isso que a produção pretende, porque o visual e o som lembram em muito os “rebeldes” novaiorquinos. E aqui mora a ligeira diferença. Com uma vivência prolongada no velho mundo (a.k.a. Londres), os garotos do Howler preferem manter uma postura mais limpinha e elegante.





Voltando no som, o que posso dizer: só ouvindo. No show, ao vivo e visceral, deve ser mil vezes melhor, mas o hit "Back of your neck" já não aceita nenhum pezinho parado na dancefloor. E a voz do Jordan mata umas boas saudades dos órfãos de Julian Casablancas.





Urgente, sujo, alternando melodia e peso na hora certa, o som do Howler é muito legal. O problema é prever se eles ficarão ou não. A parte boa é que teremos a oportunidade de tirar conclusões ao vivo, e no momento em que a banda acaba de começar a subir os degraus do showbizz.




E para os porto alegrenses, a chance de ver mais uma vez a Stratopumas, banda local que embalou os anos dourados do indie na cidade, e agora está ensaiando um retorno na abertura do show gringo. No quesito comparação, eles eram nossos Strokes também. Ah, eram sim, não tente teorizar.




Eu digo que é uma noite imperdível. Até a próxima.

Ah, sim. Por que eu falei do Prince no título? Porque eles são de Minneapolis, oras. E o Prince é demais. Um bom gancho pra ir procurar o som do cara caso você não conheça.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Moda e Estilo: DJs de rock

[Esse post é inspirado por, e uma homenagem aos meninos do Todo Dia Um Look, que a gente ama]

Ser um DJ que toca rock, o horror, não é fácil. Isso exige uma pré produção acurada, que inicia na escolha da marca do CD virgem, e termina, claro, nos headphones.

Pra ilustrar, a gente pegou de exemplo o mais novo modelo da Aerial 7: Lucas M.; ou Lucas Martins de Mello. Residente da festa Rócke e fotógrafo do Beco. (e meu namorado, se liga)

Lucas, pra se enturmar, escolheu minuciosamente seu headphone, o Tank Midnight, deep black, com toques de evergrey. O Midnight dá um ar de “sou discreto, porém das trevas e meu negócio é peso”.



Assim que abriu a embalagem, viu que o Tank vem num saquinho muito massa, e achou um desperdício o saquinho ficar jogado num canto ou na mochila enquanto os fones brilham animando a dancefloor. Logo, adaptou o acessório para o look da noite:



O rock é premissa full time, e isso tem que se destacar nas roupas que você usa, ÓBVIO! Lucas pensou na referência Suicidal Tendencies / Infectious Grooves. Esse lance meio badboy middle 80s-90s, mas com uma pegada malemolente que o Trujillo traz pro cenário (já mentalizando "um dia tocarei no Metallica"):





Agora, uma geral no look completo:

a) Fones com a “touquinha” rap-rock-crossover da Aerial 7 (porque um bom dj, assim como bons rockstars, precisa divulgar a marca do seu GEAR);
b) T-shirt retrô 80s – Playmobill: mantém a proposta rock revival, mas ao mesmo tempo é meiga e acessível, com o complemento da tonalidade PURPLE WASHED; no comprimento certo para sugestionar um corpo bem cuidado;
c) Jeans da King 55 ou outra marca descolada que só DJs usam: nos dias de hoje podemos dizer que você só conhece a personalidade de um DJ através do seu jeans. Comece a prestar atenção;
d) Tattoo: porque né, tá super usando.



A foto pra balada: Existem movimentos básicos que um dj de rock deve fazer quando for clicado porque, afinal, ELE NÃO MIXA NADA. Assim que avistar o fotógrafo, você deve dançar muito, ou erguer a cabeça ao alto de olhos fechados, pra transparecer que está SENTINDO a música. E o principal, e maior pecado do Lucas na foto abaixo: VOCÊ DEVER MEXER NOS BOTÕES DO MIXER, NÃO IMPORTA SE É DE UM CANAL DESLIGADO.



Pra finalizar, um clássico. Atitude TRUE, mostrando a marca do equipamento e usando os fones como óculos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Rock nas telas – Parte I

Essa série é dedicada ao cinema e as artes em geral. Pra começar devagarinho, um Top 10 dos filmes que falam ou são relacionados com o rock and roll e são obrigatórios nessa vida. Podia ter muito mais, a gente vai completando, uma vez por mês, no dia da sessão (e com ajuda dos leitores, garanto que já tenho mais de vinte títulos em stand by).

P.S. - Filmes que tem as mãos das próprias bandas estão fora dessa primeira seleção propositalmente.

10. Billy Elliot (2000)

Não é exatamente sobre rock, mas uma trilha dominada por Marc Bolan e T.Rex dá o tom. Billy é um garoto de família humilde, de uma cidadezinha do interior da Inglaterra que treina boxe para orgulhar o pai. Até o momento em que ele se dá conta que prefere a dança.

Highlight: a “angry dance”, quando o proíbem de dançar, ao som de A town called malice, do The Jam.




09. Tenacious D – The Pick of Destiny (2006)

A Palheta do Destino é um filme sobre dois caras que buscam o som perfeito que só é obtido com a utilização de uma palheta feita do chifre do demônio. Sem mais comentários.

Highlight: Kickapoo, certo. Não, espera. Ah, é tudo highlight.




08. Escola do Rock (2003)

Imagina se fosse assim. Um dia quem sabe.

Highlight: A distribuição do tema de casa.




07. Rock Star (2001)

Rock Star conta um pedaço da história do Judas Priest. Com algumas firulas e Mark Wahlberg como o novo vocalista e Jennifer Anniston de grou.. ops, namorada.

Highlight: os erros de gravação, sim, você vai precisar do dvd. Quando Mark se posiciona para cantar uma música do Steel Dragon e a equipe coloca o áudio de Good Vibrations, hit da sua falecida banda Marky Mark & The Funky Bunch. Nessa época, ele era só o irmão do cara do New Kids on the Block. As coisas mudam.




06. Bill & Ted – Dois Loucos no Tempo (1991)

Esse é pra quem conheceu o Keanu Reeves quando ele já era o Neo. Os anos 1990 levaram pro cinema o mote “só se é louco em dupla”.

Highlight: A cena abaixo. Se não quer spoiler, não assista.




05. A Santa Trilogia: Singles (1992), Almost Famous (2000) & Elizabethtown (2005)

Eu poderia ficar a rolagem inteira dessa página falando sobre esses, que no conjunto da obra, são meus favoritos. Mas vou tentar ser sintética. Cameron Crowe foi o único cara que entendeu de verdade toda uma geração perdida. A união perfeita de filme + trilha sonora + referências externas pra você vasculhar pelo resto da vida. O ideal é assistir na ordem cronológica.

Em Singles, Cameron obviamente faz uma homenagem ao grunge, e todas as bandas seminais estão ali, tocando e atuando. É o presente.

Highlight: Chris Cornell destruindo um carro.




Almost Famous, pra quem ainda não sabe, é a história do próprio Cameron Crowe, que saiu adolescência afora acompanhando a turnê do Led Zeppelin nos Estados Unidos. É o passado

Highlight: Tiny Dancer. Isso você sabe.




Elizabethtown é um pouco mais complicado, muita gente não gostou. Mas é tão sensível quanto os outros. Fala sobre crescer, e sobre o fracasso. E sobre como envelhecer sendo um roqueiro incompreendido pela família. É o futuro.

Highlight: Free Bird. E a Claire. A Claire é a mulher mais massa do mundo.




04. Hedwig & The Angry Inch (2001)

Hedwig é uma operada que tem uma banda punk em Berlin. Sua operação não deu certo então ela ficou assim, com essa “polegada raivosa”. Seu namorado a abandona, rouba suas músicas e fica famoso na America. Ela vai atrás dele fazer um barraco. Um filme maravilhoso, do maravilhoso John Cameron Mitchell (tenho algo com Camerons)

Highlight: Origin of Love. Toda trilha é original. Essa canção em especial é a adaptação do que Aristófanes diz sobre a origem do amor nO Banquete, de Platão.




03. Wayne’s World 1 e 2 (1992 – 1993)

Eu poderia dizer que esses personagens formaram meu caráter? Poderia.

Highlight: Todas as falas que foram decoradas e são usadas até os dias de hoje. E o show do Alice Cooper. E o índio no deserto. Ah, sim, Bohemian Rhapsody.




02. Velvet Goldmine (1998)

Desse eu falei semana passada. É o filme fundamental para entender um pouco do Glam Rock e como o estilo revolucionou o comportamento de uma geração. Eu esperei mais de um ano pra ele chegar aqui em Porto Alegre, ele durou pouco menos de um mês na CCMQ. Mas valeu a pena ver no cinema. To be played at maximum volume.

Highlight: Apesar de eu amar o “outro” cara, Curt Wilde rouba a cena cantando as originais do Iggy Pop. E o Ewan McGregor mais sexy que nunca.




01. Rock Horror Picture Show (1975)

A minha menina dos olhos. RHPS é encenado até hoje em teatros americanos. A história do Dr. Frank ‘n Further, um transexual intergálatico da Transilvânia, que busca encontrar a fórmula do prazer infinito, atravessa gerações. No Brasil, ele ganhou sua versão também, com o único músico glam que tivemos, Edy Star (meu amigo no Facebook, orgulho).

Highlight: A apresentação do Dr. Frank, por supuesto.




Até a semana que vem!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O rock na pele – Parte I

The Wall
Rock na pele vai falar de moda e comportamento. Perceba que aos poucos vou criar sessões para a coluna.

Esse post é um artigo modificado. Escrevi originalmente para um blog de música que já saiu do ar. Agora vale retomá-lo, porque o Mozz tá vindo aí, e falamos abaixo de seu ídolo número 1.

***

1992. Ano em que Morrisey arrebata-se loucamente por um artista chamado Jobriath, e solicita que esse astro esquecido abra os shows de sua turnê. Mozz acaba descobrindo que Bruce Wayne Campbell, esse nosso Batman às avessas, havia falecido em 1983, sozinho em seu quarto de pirâmide com teto de vidro, por complicações da AIDS. Afinal, quem é esse cara que tem o headmaster do Smiths como maior fã?

1960-1970 - A Swinging London era uma república paralela, opositora ao Flower Power dos hippies; a era da British Invasion, quando Beatles, Stones e The Who gritavam nas rádios; quando Carnaby Street era base de qualquer pano que Twiggy vestiria nas revistas de moda, mas também fornecia material diretamente das suas latas de lixo para uma nova geração cansada de protestos, misoginia e cores neutras.

Jovens corriam pro cinema assistir o Blow Up do Antonioni, empuleiravam no muro do Reino Unido pra descobrir a nova peripécia de Andy Warhol e viviam numa atmosfera que transbordava o rythm & blues e suas influências.

Blow Up

A Swinging London era Shirley Bassey mijando na pia de um clube de quinta categoria; o luxo e o lixo, o preto e o branco e mais uma miríade de ambiguidades. Parece que o conto de duas cidades nunca acaba em Londres..Cenário perfeito para o nascimento do Glam Rock.





Então eles vieram. Bowie, Bolan, Gary Glitter, Roxy Music, Suzie Quatro e todas essas “pretty things” que deixaram o mundo não só colorindo, mas brilhando. E o Glam atravessou o Atlântico, e contaminou Lou Reed, Iggy Pop e New York Dolls.





Mas calma, daqui a pouco retomamos tudo. A graça é que, no meio desse barulho todo, quem lembraria de um caipira da Pensylvania, não é mesmo?

Vamos falar um pouco de Bruce Wayne Campbell, mais conhecido, ou pelo menos conhecido como JOBRIATH. Ele foi marco referencial de comportamento, de música, estilo, forma e putz, marketing!

Jobriath

Sua história é parecida com a de alguém que de certa forma foi “culpado” pelo seu desaparecimento do showbizz (suspense): Garotinho do interior, vai pra cidade grande (aqui, Califórnia), entra pro elenco de Hair, monta uma banda meio riponga - que vale demais o conferes, PIDGEON -, manda uma demo pro dono da hypada Eletric Circus (uma mega casa noturna), o cara se apaixona e fecha um contrato de 500 milhares com a Elektra.





Rock and roll, extraterrestres, drogas, outdoor gigante na Times Square homossexualismo... Tudo isso tá na moda, certo? Noooooot! Estamos em 1973, ninguém aqui falou até agora que era GAY! Androginia é lindo, David Bowie é bissexual, mas não poderia haver um rockstar assumido homossexualmente, ainda mais na AMERICA, terra dos bravos!

Reza a lenda que Jobriath era a resposta americana para o sucesso do tal Ziggy Stardust, era a resposta definitiva americana para o glam rock, até que o nosso Bruce Wayne começou a dizer que aqueles carinhas afeminados eram um embuste, e que ele era “pra valer”. “I am a true fairy” – dizia o ex-futuro ídolo das multidões. Não fosse por esse desabafo, talvez seria mesmo.




A fadinha glam da América gravou dois álbuns (que na verdade saíram da mesma sessão, o segundo foi uma tentativa derradeira de reparo). “Jobriath” (73) e “Creatures of the Street” (74). Ambos geniais no que se propõe o glam, sofisticado como só Jobriath poderia ser. É sim muito parecido com Ziggy Stardust, mas a interpretação do americano dá o toque final e inconfundível, algo como um Ziggy na Broadway. Difíceis de achar, prováveis na clandestinidade, as faixas que não devem ser ignoradas são: [do primeiro] WORLD WITHOUT END; EARTHLING (hmm, já viu esse nome em algum lugar?); ROCK OF AGES; o hino gay I´M A MAN; [do segundo] DIETRICH/FONDYKE; OOH LA LA; SISTER SUE; e LITEN UP.




Em 74 Jobriath já é um fracasso de vendas e um dos maiores prejuízos da Elektra Records, esquecido pelo mundo, vai se refugiar no quarto da pirâmide do Chelsea Hotel e assumir a identidade de Cole Berlin, cantor de cabaret (que na verdade se apresenta em restaurantes meia boca de Nova Iorque).

Cobertura do Chelsea. Sim, todo mundo ficou nela. Sim, você também quer.

Ainda em 74, David Bowie lida com o suicídio de Ziggy, que deixou seus fãs insanos, lida com sua própria insanidade devido às drogas, e com a mente absorta em Burroughs e Orwell. É lançado o Diamond Dogs.




O LEGADO


Jobriath desapareceu como artista, mas deixou algumas pistas da sua existência no trabalho de outros artistas.

O “american space gay man” deixa suas marcas na touquinha de Pierrot do Major Tom de Ashes to Ashes, já utilizada por ele sete anos antes (sem contar que a composição dessa persona também leva a assinatura do alemão Klaus Nomi); no nome do álbum mais eletrônico de Bowie, “Earthling” e semelhanças enormes entre a música de Jobriath que leva esse título e Fascination (do álbum Young Americans); e mesmo em 1974, na capa do Diamond Dogs (talvez a resposta de Bowie para os americanos).

Falando nessa capa, chegamos na segunda referência-mor, o encarte da trilha sonora de Velvet Goldmine e as três capas juntas (o primeiro álbum de Jobriath e o Diamond Dogs):




Encarte interno da trilha de Velvet Goldmine

Em 1998, Todd Haynes dá ao mundo a maior homenagem já feita para o glam rock no cinema. Velvet Goldmine infelizmente só circulou nos espaços alternativos, exibindo na pele de alguns poucos personagens, as características e personalidades de uma dezena deles. Jobriath está nos trejeitos e na música de Brian Slade, e mais claramente, como o anjo que passeia por cima, assistindo tudo, uma entidade do glam, o belíssimo Jack Fairy.

The true fairy, capicce?

Fotos: tudo na internet.