quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

I am a DJ. I am what I play... I got believers*



Super Soul é um personagem de um filme lançado em 1971 chamado Vanishing Point (Corrida contra o destino). Mais que um road movie, é um escape movie, um filme que relata a história da fuga de Kowalski e o Dodge Challenger que ele tem que entregar do outro lado dos E.U.A. em 48hs.

Super Soul já aparece após os primeiros dez minutos do filme. Negro, cego, morador de uma cidadezinha de gente preconceituosa, ele passeia pela rua deserta com seu cão guia pela manhã, sob os olhos atentos dos moradores receosos em suas casas seguras de interior, em direção à radio estação em que trabalha. Super Soul é DJ.

"Assista com cuidado, porque tudo acontece muito rápido:
a perseguição, o deserto, a batida, a garota, o bloqueio, o fim"

Assim que começa a função do Kowalski fugindo dos tiras, Super Soul toca “Where do we go from here?”, e fica sabendo pela radiofrequência da polícia sobre a infração. O que ele faz? Encoraja Kowalski e o batiza de “last american hero”, chamando atenção da imprensa e tudo mais. E essa é a alma do negócio, são 80 minutos de fuga e o único contato com o mundo, o único amigo, conselheiro, o único alento de Kowalski é Super Soul, o DJ, no rádio de seu carro.


A história de Kowalski é sensacional e só melhora, esse filme precisa ser visto se você ainda não viu. Mas já deu pra perceber quem nos interessa aqui.

Não faço ideia de quando o disc jóquei saiu das cabines de rádio para as discotecas. Me interessa a relação que a gente pode criar com o público em qualquer lugar através da música. Por isso o Super Soul é o meu herói. Ele narra a história do herói dele através do som, todos vem até a estação pra entender o que está acontecendo, e quem não vem fica em casa do ladinho do rádio, eles estão ali, juntos, compartilhando das mesmas emoções.

Super Soul


Ele é negro, cego, escanteado pelo mundo dos 70s em que vive (não que tenha mudado tanto assim hoje em dia). Bem, que DJ não é um ser meio escanteado também? Um músico frustrado? Eu acredito piamente que se não existe essa relação o sujeito não gosta de música.

Mais um parênteses. Esse filme é tão amado que ganhou uma baita homenagem do Audioslave, no vídeo de “Show me how to live”. E quem já aparece logo de cara?


Não se acorda um dia com uma mensagem divina alertando que você é um DJ. Vamos combinar que a gente acaba nesse ofício das maneiras mais insólitas possíveis (com exceção àqueles que querem ser DJs porque, em algum momento, perceberam que pode dar certo assistindo aos que já exercem a função).

Todo mundo pode ser um disc jóquei, é isso aí. Controle o disco. Faça ele rodar. A mecânica é apenas essa. Porém, nem todo mundo pode ser um disc jóquei, porque isso exige que você se exponha, que você se entregue, pra poder compreender, errando muito mais do que acertando, o que aquela multidão atenta quer ouvir.

Ser DJ é muito mais que uma nomenclatura. Trata-se de ajudar pessoas, de mantê-las vivas, EM MOVIMENTO.

Colocador de som? Apertador de play? Nah. Isso não tem alma. Não tem SOUL.



* Verso da canção “DJ”, de David Bowie.

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