quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O rock na pele – Parte I

The Wall
Rock na pele vai falar de moda e comportamento. Perceba que aos poucos vou criar sessões para a coluna.

Esse post é um artigo modificado. Escrevi originalmente para um blog de música que já saiu do ar. Agora vale retomá-lo, porque o Mozz tá vindo aí, e falamos abaixo de seu ídolo número 1.

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1992. Ano em que Morrisey arrebata-se loucamente por um artista chamado Jobriath, e solicita que esse astro esquecido abra os shows de sua turnê. Mozz acaba descobrindo que Bruce Wayne Campbell, esse nosso Batman às avessas, havia falecido em 1983, sozinho em seu quarto de pirâmide com teto de vidro, por complicações da AIDS. Afinal, quem é esse cara que tem o headmaster do Smiths como maior fã?

1960-1970 - A Swinging London era uma república paralela, opositora ao Flower Power dos hippies; a era da British Invasion, quando Beatles, Stones e The Who gritavam nas rádios; quando Carnaby Street era base de qualquer pano que Twiggy vestiria nas revistas de moda, mas também fornecia material diretamente das suas latas de lixo para uma nova geração cansada de protestos, misoginia e cores neutras.

Jovens corriam pro cinema assistir o Blow Up do Antonioni, empuleiravam no muro do Reino Unido pra descobrir a nova peripécia de Andy Warhol e viviam numa atmosfera que transbordava o rythm & blues e suas influências.

Blow Up

A Swinging London era Shirley Bassey mijando na pia de um clube de quinta categoria; o luxo e o lixo, o preto e o branco e mais uma miríade de ambiguidades. Parece que o conto de duas cidades nunca acaba em Londres..Cenário perfeito para o nascimento do Glam Rock.





Então eles vieram. Bowie, Bolan, Gary Glitter, Roxy Music, Suzie Quatro e todas essas “pretty things” que deixaram o mundo não só colorindo, mas brilhando. E o Glam atravessou o Atlântico, e contaminou Lou Reed, Iggy Pop e New York Dolls.





Mas calma, daqui a pouco retomamos tudo. A graça é que, no meio desse barulho todo, quem lembraria de um caipira da Pensylvania, não é mesmo?

Vamos falar um pouco de Bruce Wayne Campbell, mais conhecido, ou pelo menos conhecido como JOBRIATH. Ele foi marco referencial de comportamento, de música, estilo, forma e putz, marketing!

Jobriath

Sua história é parecida com a de alguém que de certa forma foi “culpado” pelo seu desaparecimento do showbizz (suspense): Garotinho do interior, vai pra cidade grande (aqui, Califórnia), entra pro elenco de Hair, monta uma banda meio riponga - que vale demais o conferes, PIDGEON -, manda uma demo pro dono da hypada Eletric Circus (uma mega casa noturna), o cara se apaixona e fecha um contrato de 500 milhares com a Elektra.





Rock and roll, extraterrestres, drogas, outdoor gigante na Times Square homossexualismo... Tudo isso tá na moda, certo? Noooooot! Estamos em 1973, ninguém aqui falou até agora que era GAY! Androginia é lindo, David Bowie é bissexual, mas não poderia haver um rockstar assumido homossexualmente, ainda mais na AMERICA, terra dos bravos!

Reza a lenda que Jobriath era a resposta americana para o sucesso do tal Ziggy Stardust, era a resposta definitiva americana para o glam rock, até que o nosso Bruce Wayne começou a dizer que aqueles carinhas afeminados eram um embuste, e que ele era “pra valer”. “I am a true fairy” – dizia o ex-futuro ídolo das multidões. Não fosse por esse desabafo, talvez seria mesmo.




A fadinha glam da América gravou dois álbuns (que na verdade saíram da mesma sessão, o segundo foi uma tentativa derradeira de reparo). “Jobriath” (73) e “Creatures of the Street” (74). Ambos geniais no que se propõe o glam, sofisticado como só Jobriath poderia ser. É sim muito parecido com Ziggy Stardust, mas a interpretação do americano dá o toque final e inconfundível, algo como um Ziggy na Broadway. Difíceis de achar, prováveis na clandestinidade, as faixas que não devem ser ignoradas são: [do primeiro] WORLD WITHOUT END; EARTHLING (hmm, já viu esse nome em algum lugar?); ROCK OF AGES; o hino gay I´M A MAN; [do segundo] DIETRICH/FONDYKE; OOH LA LA; SISTER SUE; e LITEN UP.




Em 74 Jobriath já é um fracasso de vendas e um dos maiores prejuízos da Elektra Records, esquecido pelo mundo, vai se refugiar no quarto da pirâmide do Chelsea Hotel e assumir a identidade de Cole Berlin, cantor de cabaret (que na verdade se apresenta em restaurantes meia boca de Nova Iorque).

Cobertura do Chelsea. Sim, todo mundo ficou nela. Sim, você também quer.

Ainda em 74, David Bowie lida com o suicídio de Ziggy, que deixou seus fãs insanos, lida com sua própria insanidade devido às drogas, e com a mente absorta em Burroughs e Orwell. É lançado o Diamond Dogs.




O LEGADO


Jobriath desapareceu como artista, mas deixou algumas pistas da sua existência no trabalho de outros artistas.

O “american space gay man” deixa suas marcas na touquinha de Pierrot do Major Tom de Ashes to Ashes, já utilizada por ele sete anos antes (sem contar que a composição dessa persona também leva a assinatura do alemão Klaus Nomi); no nome do álbum mais eletrônico de Bowie, “Earthling” e semelhanças enormes entre a música de Jobriath que leva esse título e Fascination (do álbum Young Americans); e mesmo em 1974, na capa do Diamond Dogs (talvez a resposta de Bowie para os americanos).

Falando nessa capa, chegamos na segunda referência-mor, o encarte da trilha sonora de Velvet Goldmine e as três capas juntas (o primeiro álbum de Jobriath e o Diamond Dogs):




Encarte interno da trilha de Velvet Goldmine

Em 1998, Todd Haynes dá ao mundo a maior homenagem já feita para o glam rock no cinema. Velvet Goldmine infelizmente só circulou nos espaços alternativos, exibindo na pele de alguns poucos personagens, as características e personalidades de uma dezena deles. Jobriath está nos trejeitos e na música de Brian Slade, e mais claramente, como o anjo que passeia por cima, assistindo tudo, uma entidade do glam, o belíssimo Jack Fairy.

The true fairy, capicce?

Fotos: tudo na internet.

Um comentário:

  1. boa publicação
    eu gosto muito de roxy music, os 5 primeiros albuns principalmente... vou dar uma ouvida nessas outras bandas do gênero, começando pelo Jobriath

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